quarta-feira, setembro 03, 2008

Chico Buarque e Zizi Possi em "Pedaço de Mim"



«Trata-se de belíssimo dueto de Chico e Zizi Possi, canção que, como outras do disco, foi composta para o musical Ópera do Malandro, em cartaz naquele ano. Inspirada em textos clássicos de John Gay [Ópera dos Mendigos] e Bertolt Brecht [Ópera dos Três Vinténs], é a história de um malandro na Lapa carioca dos anos 40, recheada de corrupção e traição.
Mas o texto vai muito além da crônica sobre a malandragem e a cultura nacional; e o maior exemplo está em Pedaço de Mim. O diálogo de despedida do anti-herói Max Overseas e da bela Teresinha de Jesus é um verdadeiro tratado sobre um sentimento difícil de explicar nestes tempos de amores fluídos, oportunos e utilitaristas. As metáforas da letra perfuram como lâminas a carne de quem sabe o que é apartar-se de alguém a quem realmente se ama. Uma pessoa que nunca tenha amado [e perdido este amor por qualquer motivo que seja] pode até achar a música bonita, identificando-se com seu lirismo, mas terá uma compreensão apenas mediana de sua força.
Pedaço de Mim só dialoga de verdade com quem entende esta saudade que é tão absurda que nos leva a amaldiçoar o amor; que nos faz sentir como quem foi forçado a abrir mão de uma parte de si que parecia indispensável mesmo para continuar vivendo.
É assustador e revoltante. Uma situação de quase morte em que não somos nem ao menos capazes de entender completamente o que se passa, mas é possível sobreviver. Eu diria até que precisamos destas experiências com a mesma intensidade com que precisamos de água e comida.
É paradoxal, sem dúvida, mas apenas deixando pedaços importantes de nós mesmos pela vida é que somos capazes de atingir a verdadeira completude possível que nos torna unidade e sujeito.
Eu sei que é mais cômodo culpar o destino e a sorte por não te apresentarem aquela "alma gêmea" que você merece, ou simplesmente fazer de conta que a vida não dói. Mas, aprenda a deixar pedaços de si pelo mundo, sem medo, que logo você deixará de amaldiçoar o amor, e passará a celebrar a vida [ou suportá-la melhor, pelo menos].» Autor: Doni

«A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu...»

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