sexta-feira, janeiro 30, 2009

uma carta que deve circular

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A Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa
Campo de Santa Clara
Mosteiro de S. Vicente de Fora
1149-185 LISBOA
Lisboa, XX de Janeiro de 09

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A Sua Eminência
Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa
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Chamo-me Tânia de Saint-Maurice Correia de Matos Capela Ferreira, tenho 42 anos, casada com Paulo Capela Ferreira. Sou mãe de família, até há pouco, de dois rapazes, o Pedro, mais velho, de 18 anos, e o David, de 16 anos. Com o meu marido temos procurado dar uma educação esmerada aos dois.
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Mas, infelizmente, no dia 26 de Janeiro, o nosso filho Pedro suicidou-se. Não sabemos porquê, não houve sinais e, se os houve, não os soubemos ler. Confrontamo-nos com a inelutável e irreparável perda do nosso filho.
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De uma forma consensual, eu e o meu marido decidimos que os nossos filhos seriam baptizados se assim o quisessem, com plena consciência desse acto tão sério e responsável. Teria de ser uma decisão deles. Somos casados pela Igreja, decisão da nossa inteira responsabilidade e convicção religiosa.
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Tal como nesse tempo em que procurámos a benção de Deus, agora, mais do que nunca, nestes momentos de imensa dor, precisávamos dela. Que Deus está connosco é uma certeza interior. Mas os representantes da religião que professamos, insensíveis ao nosso sofrimento, recusaram oficiar essa benção. Tendo a agência funerária, na minha presença, contactado o padre José Maria da paróquia de Alverca, onde vivo, este recusou-se a fazer o funeral, tal como outros padres que alegaram não poder entrar na jurisdição do primeiro. Todos se negaram a acompanhar o Pedro à sua última morada.
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Eu, toda a família e amigos, vivemos humilhados estes momentos, sem compreender tão grande crueldade vinda de ministros de Cristo. Alegaram que ele não era baptizado, mas é fraco argumento. Todos temos participado em funerais religiosos de pessoas nas mesmas condições e nunca vi uma atitude desta natureza. Não é esta uma prática anterior ao Concílio Vaticano II?
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Na ausência de um padre, fiz eu uma prelecção, porque era vital para o Pedro e para todos nós. E depois, com muito amor, rezámos a oração que o Senhor nos ensinou. Eram largas centenas de jovens, colegas e amigos do meu filho Pedro, que, num silêncio impressionante, nos acompanharam. Deus esteve connosco. Em Seu nome, os representantes da religião católica estiveram ausentes.
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De uma Igreja assim não precisamos. Não poderá Vossa Eminência obviar a que tais situações se repitam, de forma a que honremos a memória dos nossos mortos e a família não seja tão barbaramente excluída da consolação que Jesus prometeu?
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Com os melhores cumprimentos
Tânia

Da Sara para o Pedro

16 comentários:

Anónimo disse...

Já cumpri o meu dever para com o Pedro,já divulguei a carta aos meus amigos.
Um beijo com muito carinho.

Frioleiras disse...

sou católica mas a instituição igreja nada ten a ver com a nossa fé.

Um padre... que poderá rezar ou acompanhar melhor um ser que nunca viu?

o Pedro foi melhor acompanhado pela família e pelos amigos.

Também eu perdi duas pessoas neste mês de Janeiro.
Não filhos (porque os não tenho bem como família que é escassa) mas dois grandes amigos. A última (morreu no Domingo) eu senti a morte dela. Nesse dia estive com uma angústia enorme sem saber a causa. No dia seguinte soube da termenda morte dela... por solidão, porque estava com efizema pulmonar e uma enorme depressão, e porque no lar onde estava (Belas) a mandaram para casa porque disseram que já estava mais estabilizada... e não! Uma semana depois morreu porque não queria viver naquela solidão em que não tinha forças para administrar os medicamentos. não saia da cama. morreu. não sei se foi ela que quis. 3 dias antes disse-me que não suportava estar assim sozinha e que ia telefonar ao médico do lar para ver se ppoderia voltar para lá.

a irmã, rica e nfluente... nada fez por ela......... os amigos têm família e não podiam ficar com ela.

Não seria um dia... seriam meses ou mais, até ela ficar melhor. E não tinha dinheiro para ir para um lar que não fosse da segurança socia.......


um horror a solidão .


compreendo a tua dor, portanto
mas estão em Paz


já não têm que ter medo desta vida, destas dores, do futuro.

Deus está com eles.

Adriano Ribeiro disse...

Apresento à vossa familia os meus sentidos pesames.
A carta já está publicada em Bancada directa.
Sempre me ensinaram e eu procurei sempre transmitir aos meus, que todo o ser humano é pessoa, perante Deus e perante a Sociedade.
Fiquem na paz do Senhor.
Adriano Ribeiro

Fresquinha disse...

Obrigada, Helena.
Ontem deveria ter sido a missa de 7º dia. Os amigos da escola dele (que compareceram às centenas no dia trágico), decidiram prestar-lhe uma homenagem na Igreja dos Pastorinnhos de Alverca (a do carrilhão maior da Europa...faz muito sentido que seja em Alverca ...). Apòs o serviço dominical, reuniram-se dentro da Igreja para cantar à viola uma música alusiva ao sucedido, leram um poema e discursaram). O padre ficou aborrecidíssimo por não ter sido pedida umqa autorização e queria fechar a Igreja. A minha irmã explicou-lhe que era a casa de Deus onde estávamos, e que o Pedro e todos nós éramos seus filhos.
Foi preciso explicar....

Fresquinha disse...

Frioleiras,

Agradeço as tuas palavras. Infelizmente tudo isto que se diz humano, está a precisar de uma grande volta. Tenho muita pena das pessoas que não assumem o cuidado aos seus familiares, e sinto uma enorme tristeza que alguém possa morrer sózinha e doente. Abandonada pelos seus próprios familiares. Não tenho palavras para descrever a revolta que sinto pela Humanidade, neste momento. Só tenho a pedir miol perdões para todos os pobres de espírito, incluindo os representantes da Igreja Católica.
Certo é que a minha fé em Deus continua inabalável, e quem sabe saia desta, mais fortalecida.
Já rezo o Credo assim "Creio na Igreja una e santa" e vou medindo as minhas palavras para que não me confundam com a Igreja Católica e Apostólica. Não que faça grande diferença à Igreja Católica que na sua hipocrisia continua a julgar as pessoas e a falar nos pecados dos seus fiéis, como se fossem santos. O meu Deus, digo e repito, a Todos perdoa e a todos Ama, sem distinção. O Deus deles deve ser um deus inquisidor em quem não tenho qualquer qualquer fé.
E os meus pêsames.

Fresquinha disse...

Obrigada, Onaírda.

Pode ser que se sacudam algumas católicos adormecido.

Um amigo meu, tem uma pergunta pertinente:
"Se até um criminoso tem essa possibilidade, porque não um jovem, caso idêntico, porque um soldado que mata centenas de inocentes, caso dos nossos militares e até com honras militares, porque não um jovem?"

PSousa disse...

Neste momento de dor e pesar, quero deixar os meus pêsames sinceros com abraço fraterno a ti e todos os que sofrem neste momento.

estas atitudes da igreja católica cada vez faz com que os seus praticantes o sejam menos, sendo que nunca conseguirão nos afastar da verdadeira Luz que nos proteje e ilumina.

Abraço a toda a tua família

Pedro Sousa

Fresquinha disse...

Caro Pedro,

Efectivamente a Igreja Católica precisa muito da nossa Luz e da nossa Compaixão. Ninguém pode dar o que não tem.

Sei que muitos jovens deixaram de frequentar a igreja, daquele dia em diante. Não me dá grande gozo que a Igreja Católica perca fiéis. Aliàs, é-me totalmente indiferente. Se eles lá estão, alguma coisa os acalenta (e alguém tem que pagar aquele carrilhão)

Eu não frequentarei mais a igreja porque encontrei consolo no Deus em que acredito. Deus dá-nos o livre arbítrio, e eu vou continuar a usá-lo.

Contudo, a Igreja Católica prega e justifica tanta coisa com o livre arbítrio,e portanto, deveria respeitar TODAS as escolhas. De outra forma, não há lugar a livre arbítrio, certo ?

Obrigada pelo teu conforto e amizade incondicional. Igual ao amor do (meu) Deus: incondicional.

PSousa disse...

Amiga Leonor,

eu acredito que cada um tem a luz dentro dele, e que independentemente da religião em que acredita ou segue, o importante é o que acredita, o que medita, o que espiritualmente sente, pois ir a igreja não faz da pessoa menos devota ou com menos fé.

Eu vou quando posso, sendo que entro em qualquer igreja independentemente da religião, e também adoro a profecia espírita pelos valores transmitidos , mas não faço dito uma sina, pelo contrário, a minha sina é lembrar-me todos dias que Deus está comigo e agradecer-lhe a vida que me dá, sendo que nem sempre dedico tanto tempo como devia.

De alguma maneira espero que as minhas palavras sirvam o mínimo conforto para ti e família, em especial os pais do Pedro, pois nestes momentos tudo é pouco daquilo que possamos dar ou meditar.

Mas duma coisa tenho a certeza, Pedro estará junto do espírito de Deus.

Abraço Sincero

Pedro Sousa

Fresquinha disse...

Pedro,

Parece-me a mim que a Igreja Católica tem responsabilidades acrescidas. É um poder intemporal.

Lembro, e vem a calhar, o que está descrito no post abaixo : "A moral pessoal - a mais pura destilação da moral social - é uma característica da consciência pura. É desenvolvida dentro e testada fora. A moral pessoal é baseada na Lei Maior, e não na opinião certa ou boa dos homens. A victória moral é aquela que guia e promove virtudes, santidade e honra. É irrelevante o consentimento ou a condenação, pois ela existe, independentemente da opinião alheia."

PS(Lembro-me que por duas vezes, durante a missa, o padre lembrou os cristãos que precisava de mais dinheiro para as obras ...)

PSousa disse...

Correcto, pois por muito que a pessoa faça nos seus actos, o verdadeiro é aquele que é puro e nunca julgado por quem quer que seja na terra, mas sim pela luz de Deus.

PS* A muito que as igrejas se lembram mais pelo que recebem, do que o que praticam ou dão, mas esse é pelo mal humano de algumas pessoas.

Deus perdoe os pobres de espírito, e a nós também por actos menos reflectidos.

Bjinhos

xiu disse...

Só para acrescentar o nome do Padre que recusou acompanhar o Pedro e que na carta se dá por nome de X.

Substituamos, sem medos. O Padre JOSÉ MARIA tem que ser denunciado !!!

Fresquinha disse...

E porque é que todos os José Marias que eu conheço, são todos pulhas ???

Acrescentarei.

Posso usar os teus quadros e poesia para divulgar no meu blog ?

Anónimo disse...

Pouco ou nada há a acrescentar...a minha indignação está ao rubro desde que li a carta!!Um abraço aos que sofrem esta perda...a esta mãe que perdeu um filho espero que Deus(seja ele qual for)a ilumine...
Um Abraço!

Fresquinha disse...

Pois, Nucha, várias atitudes da Igreja Católica indignam qualquer pecador de intelîgência média.

Estou certa que Deus iluminará o meu sobrinho. Deus sempre protegeu os seus filhos. Até mesmo os representantes da Igreja Católica.Um Pai ampara sempre os seus filhos mais fracos.

Obrigada. Um abraço.

Anónimo disse...

Amen!