Quero que gostes de Pina Baush, ou até já nem gostes, queiras mais, queiras diferente;
que gostes da cor e do risco forte de Miró e do canto desiludido e fundo de Ferré;
quero que aprecies os cheiros sensíveis da eternidade do grande bruto grande e do pequeno sensível e pequeno;
quero que mores nas páginas da Photo e que, sendo um modelo de virtudes representes a cortesã mais lassa para mim;
quero-te com mãos de pedra e de veludo;
quero que ames o chique e a Serra Eterno de Aire mais o safari que a recepção,
quero que mores e sofras nas paginas de Guido Crepax e que te irrites com a perfeição absoluta de um retrato de Medina
quero que, se possível vivas dentro do anúncio do Martini, felina e ondulante numa ilha tropical quero que sejas capaz de divertir-te, de soltar uma ampla gargalhada, ante o espectaculo ridículo e obsceno de um homem de Quinhentos, a quem atribuissem um numero de contribuinte
quero que ames o longe e a miragem, como o Régio e que ... sejas louca e saibas que tenhas lábios e mordas, lingua e sorvas, sexo e sexes, salto e salto, riso e rias, sorvedouro inteiro de vida, arrepio de garra, sacudir de cisne, passos de corsa, graça de arlequim, pose de Diva, corpo de areia e luz.
E quero que me dês, me dês muito, que me dês tudo, e que abras as janelas de par em par ao Tejo e fecundes um poema em cada gesto e voes como a gaivota em cada espreguicar e partas para a Índia em cada cacilheiro e que sejas, mores, vivas e creias longe muito longe daqui...
quero que sejas profundamente minha e ritual obsessiva e lúcida, doente, febril, tremendo de desejo disposta a tudo e a mais e a muito mais, boca de Mundo, seios de Mármore, corpo de Alfazema e sobretudo Mulher e sobretudo amante.
Se existires assim, nua, inteira, absoluta e pessoal responde-me que eu fico aqui, eterno, à tua espera.
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