terça-feira, junho 26, 2007

juvenal


O Juvenal estava desempregado há meses.

Com a resistência que só os brasileiros tem, o Juvenal foi tentar mais um emprego em mais uma entrevista.

Ao chegar no escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha exactamente o perfil desejado, as virtudes ideais e lhe perguntou:

- Qual foi seu último salário?

- "Salário mínimo", respondeu Juvenal.

- Pois se o Sr. for contratado ganhará 10 mil dólares por mês!

- Jura?

- Que carro o Sr. tem?

- Na verdade, agora eu só tenho um carrinho pra vender pipoca na rua e um carrinho de mão!

- Pois se o senhor trabalhar connosco ganhará um Audi para você e uma BMW para sua esposa! Tudo zero!

- Jura?

- O senhor viaja muito para o exterior?

- O mais longe que fui foi pra Belo Horizonte, visitar uns parentes...

- Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Roma, Mônaco, Nova Iorque, etc.

- Jura?

- E lhe digo mais... O emprego é quase seu. Só preciso falar com meugerente. Mas é praticamente garantido. Se até amanhã (sexta-feira) à meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso cancelando, pode vir trabalhar na segunda-feira.


Juvenal saiu do escritório radiante. Agora era só esperar até a meia-noiteda sexta-feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.


Sexta-feira mais feliz não poderia haver. Juvenal não aguentou a pressão e reuniu a família para contar as boas novas.


Não resistindo ao que poderia ser a melhor coisa já acontecido em sua vida, convocou o bairro todo para uma churrascada comemorativa a base de muita música.


Na tarde da sexta feira já tinha um barril de choop aberto. Às 9 horas da noite a festa fervia. A banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta.


Dez horas, e a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero. A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pra perto do Juvenal.

E a banda tocava !...

E o choop gelado rolava ! ...

O povo dançava !

....Onze horas, Juvenal já era o rei do bairro.Estava gastando horrores para o bairro encher a pança. Tudo por conta do suposto primeiro salário. E a mulher do Juvenal resignada, meio aflita, meio alegre, meio boba, meio assustada.

Onze horas e cinqüenta e cinco minutos........ Vira na esquina buzinando feito louco uma motoca amarela... Era do Correio!

A festa parou!

A banda calou!

A tuba engasgou!

Um bêbado arrotou!

Uma velha peidou!

Um cachorro uivou!

Meu Deus, e agora?

Quem pagaria a conta da festa?

- Coitado do Juvenal!

Era a frase mais ouvida.

Jogaram água na churrasqueira!

O chopp esquentou!

A mulher do Juvenal desmaiou!

A motoca parou!

- Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri mora aqui, pergunta o motoqueiro?

- Si, si, sim, so, so, sou eu...

A multidão não resistiu...

- OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!

- Telegrama para o senhor...


Juvenal não acreditava...

Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos.

Silêncio total. Respirou fundo e abriu o telegrama. Uma lágrima rolou, molhando o telegrama..

Olhou de novo para o povo e a consternação era geral.

Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler.

O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava.

- E agora Juvenal? Quem vai pagar essa festa toda?

Juvenal recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava...

Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico.

- Mamãe morreeeeuuu! Mamãe Morreeeeuuu!!!!!!!

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