sexta-feira, julho 25, 2008

ulisses não volta

I
não há barcos em ítaca morre-se entre o nevoeiro
e ulisses não volta
não há remos e as ilhas
afundam-se entre a barra sem a barca de ulisses

circe desmonta inútil o encantamento
eólo brame as velas afasta tróia e
em tréguas de sal penélope espera na moldura

em vão espera penélope um ulisses se âncora
ulisses desgarrado nas quilhas da inquietação
penélope espera em vão

II
o seu corpo pairava sobre as águas
concebível nas formas que lhe dava
o seu corpo quieto sonhando o movimento
não se aquietava

em plena era de bruma sobre as águas
feridas de ulisses vinham as memórias
onde ulisses já sem vida se agitava

III
volta de novo ao esconço da capa do retorno
morre capitão torna soldado ferido e sem glória
volta momento e só sem mais história

mas ulisses já não volta
consumido por presságios morenos que trouxera
corta as amarras e a miragem de ondas que fizera

e na sua metáfora
escondido momento de amargura
penélope está à espera
sem procura

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