De joelhos, cão
A vantagem da monarquia é que ela é um exercício público de lealdade. Em filmes bobos é costume mostrar cada rei como um cretino afeminado comendo coxinhas de frango, mas mesmo se esse fosse o caso, não importa. O ponto da monarquia, ou pelo menos duma monarquia devidamente decorativa, é que não importam tanto os defeitos do rei. Como num casamento, a menos que ele tenha caído ao ponto da traição ele é o seu rei e você deve a sua lealdade a ele.
E a lealdade é algo bonito. Posso entender quem faz objeções práticas à monarquia, mas não quem não vê a beleza dessa simples lealdade ao rei. Quando eu era adolescente também cometia a vulgaridade de achar que qualquer tipo de devoção entre duas pessoas do mesmo sexo é bichice: eu era o tipo de pessoa que acusa os outros de sonhar em “lamber as botas de X” sempre que se depara com a mais discreta admiração por qualquer figura de autoridade. E não tinha nenhuma vergonha do clichê, como todo mundo que usa clichês. Mas quem continua dizendo isso depois dos dezessete anos está seco e morto.*
Precisamos de alvos para a nossa capacidade de lealdade. Precisamos de exercício. Temos pessoas à nossa volta, e bichos, aos quais devemos lealdade, e falhamos até nisso – mas é bom ter uma oportunidade adicional e pública. Todos nós temos uma vasta capacidade de devoção e lealdade que não usamos para nada, e essa parte de nós pede sem parar pela volta da monarquia, mesmo que não tenhamos consciência disso e só percebamos em nós mesmos uma grande nostalgia de alguma coisa nobre e obscura e esquecida. Quanto a mim, sempre leio livros de história procurando no passado uma rainha (ser jovem, ser bonita ajuda) à qual possa dedicar a minha lealdade em retrospecto.
E a lealdade é algo bonito. Posso entender quem faz objeções práticas à monarquia, mas não quem não vê a beleza dessa simples lealdade ao rei. Quando eu era adolescente também cometia a vulgaridade de achar que qualquer tipo de devoção entre duas pessoas do mesmo sexo é bichice: eu era o tipo de pessoa que acusa os outros de sonhar em “lamber as botas de X” sempre que se depara com a mais discreta admiração por qualquer figura de autoridade. E não tinha nenhuma vergonha do clichê, como todo mundo que usa clichês. Mas quem continua dizendo isso depois dos dezessete anos está seco e morto.*
Precisamos de alvos para a nossa capacidade de lealdade. Precisamos de exercício. Temos pessoas à nossa volta, e bichos, aos quais devemos lealdade, e falhamos até nisso – mas é bom ter uma oportunidade adicional e pública. Todos nós temos uma vasta capacidade de devoção e lealdade que não usamos para nada, e essa parte de nós pede sem parar pela volta da monarquia, mesmo que não tenhamos consciência disso e só percebamos em nós mesmos uma grande nostalgia de alguma coisa nobre e obscura e esquecida. Quanto a mim, sempre leio livros de história procurando no passado uma rainha (ser jovem, ser bonita ajuda) à qual possa dedicar a minha lealdade em retrospecto.
* Eu ia dizer que é idiota, mas a minha mãe pediu pra eu parar de chamar as pessoas de idiota.
Autor: Alexandre Soares Silva
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