quarta-feira, janeiro 10, 2007

no começo


Ficámos-nos pelas 3.15 de uma noite já chuva. As noites de gatos selvagens, das flores de pele, nas virtudes sentidas das veredas da vida. Não era tempo de partir. Difícil largar as mãos que me aqueciam as luas, roubavam beijos famintos em duas bocas esquecidas no mapa de tábuas escritas e, que partilhavam já os segredos, os murmúrios e as falas pequenas.

Partíamos sim para encruzilhadas vadias, temendo o escuro mas acolhendo as madrugadas, debaixo das terras frias de uma parte qualquer do nosso universo. Calámos o amanhã em goles da vodka, riscámos calendários dos dias de nortes vários, abrigámos os silêncios em céus de estrelas. Era a nossa noite. A noite que dividia o passado do sabor dos dias, na manteiga mole das tuas febres, dos meus desvarios.

Passeámos a praia de todos os amores, agarrados à cintura das estrelas, dos caminhos simples de todos os amantes e mergulhámos nas histórias lindas de luzes explodidas à beira rio. Eram músicas que nos acompanhavam no respirar das coisas, areias que invadiam os nossos lugares, laranjas que suavam odores de inverno, em paisagens carregadas de monotonia.

Era a vida que preenchia os nossos lugares vazios, preenchia as vontades de todas as mãos do corpo e devolvia o sabor das uvas ao passo dos pés cansados de quem o bebia.

Certo era, que todas as gaivotas que dormiam sobre as ondas daquele mar que nos guardava, calado e sapiente, eram testemunha das palavras escritas em ventos do lado de lá da margem, que nos separavam daqueles que apenas remam destinos rotulados e sempre mesmos.

Lá longe, um farol que lembrava as almas esquecidas de um temporal que resistia às veleidades terrenas e apontava a luz que nos entontecia, rosto no ventre, aquecido e apaziguado na calma da alma. Eram 8 da madrugada, e o que restava de uma noite vivida ao segundo, esvanecia-se na luz que nascia.

Permaneci sempre acordada, sentindo o pulsar da tua vida no meu peito, até ao sol nascer e acordar a cidade. E as gaivotas da nossa praia encontrada anunciavam uma nova alvorada. Uma vida se levantava ao raiar de um ano que prometia sonhos e ilusões, mesmo ali, na ponta dos pés, despontava.

Leonor de Saint Maurice

2 comentários:

robina disse...

Estamos muito poéticas hoje...

Bom dia ;-)

Fresquinha disse...

Acontece-me ....se vires algumas postagens anteriores, encontras lá mais. Em português... Bom dia, Robina !