quarta-feira, outubro 31, 2007

casas assombradas

Negócio e superstição dão alma a casas assombradas
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Cinco a 25 mil euros: é esta a redução de preço que uma casa pode ter no mercado se for assombrada. Dito por outras palavras, as de Sérgio Razente, psicólogo que se dedicou a estudar as percepções do paranormal e da religião em Portugal, "há muita matéria judicial dentro do fenómeno mais vasto das casas ditas assombradas, casos de fraude com um objectivo claro". Mas também existem representações colectivas genuínas, "fenómenos psicossociais de superstição que abrangem toda uma comunidade". Movem-se objectos, acendem-se luzes, pessoas e animais experimentam alterações de comportamento, equipamentos electrónicos deixam de funcionar. Em Portugal, o espaço ocupado pela religiosidade parece não ter deixado muito espaço ao simbolismo mágico das casas assombradas: apenas 27% da população assume já ter assistido a um fenómeno do género.Para o especialista em psicologia social, que chefiou um projecto de investigação no já extinto Observatório de Fenómenos Paranormais da Universidade do Minho, "essa percentagem de crédito no fenómeno é muito baixa, quando comparada com outros países". Mas a percepção do sobrenatural, da presença de espíritos, existe, ligada a edifícios "quase sempre recentes, com meio século de existência" - e com particular incidência no Norte de Portugal. Tal como existe toda uma rede de serviços associada às casas assombradas, com parapsicólogas e tarólogas a efectuar tratamentos e limpezas de forças negativas. Estas forças não se restringem a edifícios de habitação e flagelam restaurantes, bares e até oficinas de automóveis. Os padres são, muitas vezes, os primeiros a encaminhar os ansiosos proprietários para estes profissionais.Neste país a meia luz, envergonhado com o sobrenatural que pressente, 33% da população revela já ter testemunhado um fenómeno de psicocinética - movimento de objectos sem causa aparente, associado ao poder da mente ou a uma força sobrenatural. De acordo com o estudo realizado por Sérgio Razente em 2004, patrocinado pela Fundação Bial, 35% acreditam que é possível contactar com os espíritos de pessoas que já faleceram, e 39% crêem na vida depois da morte. Actualmente a residir em Londres, onde prossegue estudos na área, o psicólogo salienta a definição de casa assombrada a que chegou: "Um fenómeno de superstição de origem individual, com variáveis psicológicas, que se desenvolve colectivamente - primeiro na família e depois na comunidade -, associado a um determinado edifício."Isto é, claro, a percepção que interessa à psicologia, e que inclui os tais barulhos, luzes, deslocação de objectos, vislumbres de figuras espectrais. Reconhece-se e valida-se o paradigma, a sugestão. Na opinião de Sérgio Razente, a apropriação colectiva do mito é fundamental, sem ela não existe fenómeno. Frequentes são também as psicopatologias individuais que provocam alucinações, efabulações ou fraudes, que podem ter como objectivo a tal desvalorização imobiliária, um qualquer conflito com o residente na casa ou uma simples chamada de atenção.Se, até agora, "a religiosidade refreou a imaginação popular em Portugal - a diferença entre milagre e fenómeno paranormal é só uma questão de semântica", o psicólogo acredita que haverá agora um regresso "a um certo animismo do mundo físico, a outra nomeação, ao abandono do mito do demónio". A casa que mais o impressionou o especialista, quando andou no terreno, ficava perto de Valongo, no Norte, e "foi habitada por quatro famílias que relataram sempre os mesmos fenómenos - e algumas eram muito cépticas". Os objectos moviam-se, sucediam-se ruídos misteriosos, cães e gatos tornavam-se agressivos, os carros avariavam, as máquinas fotográficas explodiam. As próprias pessoas sofriam alterações de comportamento, "ficavam nervosas e irascíveis, tinham alucinações". Só faltava a identificação de uma entidade espectral para o quadro ficar completo, de resto "o símbolo e o signo coincidiam em tudo". Sérgio Razente diz ter presenciado algumas dessas manifestações. "Havia ali uma força, uma coincidência", admite, "mas isso não interessa à psicologia, à estrutura de análise que utilizei."
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Autora: Maria José Margarido
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Conheçam algumas verdadeiramente assombradas pelo mundo fora, aqui.

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