sexta-feira, outubro 12, 2007

acho tão natural que não se pense


Acho tão natural que não se pense

Que me ponho a rir às vezes, sozinho,

Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa

Que tem que ver com haver gente que pensa…

Que pensará o meu muro da minha sombra?

Pergunto-me às vezes isto até dar por mim

A perguntar-me cousas…

E então desagrado-me, e incomodo-me

Como se desse por mim com um pé dormente…

Que pensará isto de aquilo?

Nada pensa nada.

Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?

Se ela a tiver, que a tenha…

Que me importa isso a mim?

Se eu pensasse nessas cousas,

Deixaria de ver as árvores e as plantas

E deixava de ver a Terra,

Para ver só os meus pensamentos…

Entristecia e ficava às escuras.

E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
.
(Alberto Caeiro)
.


(HAYDN: Piano Sonata in Eb, Hob.XVI/52, 3.Presto)

Preferia a composição de Ekaterina DERSHAVINA, mas ...

Sem comentários: