sexta-feira, janeiro 04, 2008

os reis magos

Artigo de Félix de Azúa no El Periódico de 15 de Dezembro
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Um célebre psicólogo, Jean Piaget, dedicou páginas lindas à questão de saber se as crianças acreditavam verdadeiramente nos Reis Magos. A sua conclusão foi que as crianças acreditavam nos Reis Magos, mesmo sabendo perfeitamente que os seus pais tivessem comprado os presentes. Esta contradição só desconcerta os cidadãos afectados por uma racionalidade severa. Um douto historiador francês, Paul Veyne, dedicou há anos um estudo sobre o mesmo tema. Queria descobrir se os gregos acreditavam deveras nos seus mitos. Algum amigo de Platão ou de Sócrates poderia acreditar que, para copular com Leda, Zeus tomou a forma de um cisne? A sua conclusão não diferia da de Piaget: antes da era moderna, antes do domínio científico, era compatível acreditar e não acreditar em alguma coisa. As lendas tinham a sua verdade, e a geometria, outra.
Não é tão estranho. Na minha vida muitas vezes me perguntei (mesmo que nunca me atrevesse a levantar a questão) se a minha avó acreditava realmente em Deus que era, por sua vez, três deuses, um dos quais havia nascido de uma virgem humana e, portanto, podia morrer sem que por este facto deixásse de ser imortal como os outros dois. Suponho que ainda resta muita gente que acredita nestas lendas e que talvez se zangue se alguém os trate como se de mitos poéticos, de fábulas ou de contos se tratassem.
Até em pessoas capazes de utilizar o telefone e a calculadora, conduzir um automóvel ou investir num fundo de pensões, persiste esta capacidade que geralmente consideramos infantil ou arcaica, e que não tem nenhuma dificultade em acreditar numa coisa incrível. Não garantidamente vê nenhuma contradição no facto de ter uma vida racional, hipertécnica, e assumir disparates. Como utilizar internet, mas para consultar o horóscopo.
Certamente, é uma maneira de proceder. reservada a um tipo especial de pessoas: idólatras, primitivas, poéticas. Assim como somos injustos quando acusamos os políticos de serem cínicos. Não o são. Pertencem sim ao grupo invejável que pode acreditar cegamente numa coisa, sabendo que é absolutamente falsa, e dormir a Noite de Reis como crianças excitadas.
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Daqui http://blogs.elboomeran.com/azua/

3 comentários:

xico.lf disse...

Fresquinha,
O imaginário faz parte da vida!
Há é vários "imaginários" ao longo da vida.
Porque mantemos e passamos aos nossos filhos ( e qualquer dia netos) tradições e lendas de que já não sabemos origem a origem e sabemos serem isso mesmo, lendas??
:-))

Fresquinha disse...

Porque, como tu disseste, o imaginário faz parte da vida. Da nossa e da deles.

:-)

Fresquinha disse...

Toda a gente merece uma lenda de vez em quando !