quarta-feira, fevereiro 27, 2008

desejo-vos um dia, de-lírios e anjos !


Pois o dia nasce aqui ao som das maritacas e ao sol das horas absurdas.

Velei seu sono. Espero que não tenha se importado, fiquei onde você me havia me indicado: sentado na janela, observando seus lábios que diziam algo suavemente, e eu via letras saírem de sua boca, dançarem no quarto, unirem-se às outras letras, que por sua vez se uniam ao seu redor e a cobriam delicadamente, com tal zelo e cuidado que se assustaram ao me ver ali sentado.

Eu poderia ter voado pela janela de volta à minha sala, mas aquela lua ariana me paralisava. Que encanto é este que me toma pelas mãos e dirige meus dedos nesse teclado? Sou nascido no Halloween, eu deveria saber... mas meu saber é teórico, não abre fendas nem brechas em almas silenciosas. Talvez alguma música me ajude a perceber esta criatura envolta em seus cobertores, sonhando que voa sobre o mar após saltar de uma escarpa. Mas a música também me absorve, desobedece a meu comando e se eleva, depois acalma e encerra, como uma peça em três actos.

Você viveu na lua! Lembrei agora... em outra era, em outro continente, vi você ser levada por uma canção, por um canto, por um conto de uma lua vaga. Fixou-se aquela imagem novamente, mas era outra forma de vôo.
As asas estão guardadas em suas mãos, e todo movimento subtil que desperta você de seu sono, do devaneio ou das câmeras de tortura da razão acabam por se revelar como se descesse um arcanjo e lhe dissesse qual será a próxima mulher, a mulher do próximo.
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MJ
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Que texto sublime, MJ! Permita-me bebê-lo. Encher a minha sede para depois tocá-lo em harpa.

Magnífico o pano que cobre a sua alma. Debaixo, a luz de uma aurora boreal. Suave, etérea, ofuscante, pairando sobre os meus dedos, trespasssando-me o peito, iluminando-me as irís, gravando sombras de pássaros na retina. Bebo você, rodopiando no espaço que nos separa, e procuro-o incessantemente na minha solidão. Ah ! um calor que afaga os ombros, me sussura serenidade e dança valsas nas minhas veias. Sinto o sangue a pulsar, morno e latejante, acordando-me nos meus lençóis amarrotados, suados de tanto querer.
Sonhei. Sonhei que não sonhava. Que a vida acontecia daqui para a janela, da janela para aqui. E um mundo de borboletas rompia esse vazio que nos cai dos braços. Daqui a um palmo de chão, o doce olhar que deita nos meus segredos, a canela, o rosmaninho, e lírios brancos. As horas passaram ....
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Leonor de Saint Maurice

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