sábado, outubro 06, 2007

o cavalo falante


O cavalinho de pau da minha infância fazia lembrar um centauro transvestido.
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O cavalo de Tróia de que falava o compêndio de História Universal era de madeira e tosco.
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Pégaso, aquele cavalo alado, parecia poder levar-nos às nuvens.
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As corridas de cavalos de Degas, tão vivos, tão galantes, muito belos.
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Os cavalos do Parthenon que afinal vivem aprisionados em Museus.
As cabeças, mesmo depois de arrancadas dos corpos, dizem-nos tudo sobre o cavalo inteiro.
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"Os cavalos também se abatem", o filme que nos pôs a pensar sobre quem abate e quem se deixa abater.
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Este da fotografia encontrei-o há muitos anos no Alentejo profundo. Visto ao longe parecia-me que o pobre animal estava atacado de uma qualquer astenia ou psicose, pois notava-se que sofria de convulsões com alguma gravidade. Corri célere para ele. Abismem-se senhores! O animal não sofria de qualquer mal e, por incrível que pareça, ele falava. Acreditem, ele falava! Mas ria, ria que nem louco em convulsões delirantes. Perguntei-lhe porque se ria. Respondeu-me que ria da verdade dos homens, do saber dos homens, da fidelidade dos homens, da amizade entre os homens, da memória curta dos homens, da justiça dos homens e dos medos dos homens. Virei-lhe as costas e vim-me embora. Este cavalo louco por ali ficou a rir e juro-vos que ainda há pouco, quando o sol de mansinho se escondeu no horizonte, eu o ouvi rir...
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Autor: José Meneses

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