quinta-feira, dezembro 27, 2007

ziltch !!!!!!!




ELES ESTÃO DOIDOS!

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A meia dúzia de lavradores que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente. Os proprietários de restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da chegada da fast food, para fechar portas e mudar de vida. Os cozinheiros que faziam a domicílio pratos e petiscos, a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
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A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará.Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam- se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
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Em frente à faculdade onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou!É proibido jogar!
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Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
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Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido.
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Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
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Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou.É proibido.Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal?Proibido.
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Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
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Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
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Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
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Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
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Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
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Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido.
Só industriais.
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É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
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Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
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As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
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Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
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Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
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Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
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No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta produto não válido, mesmo que esteja vazia.
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Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
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Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
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Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
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Flores naturais nas mesas ou no balcão?Proibido.Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
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Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido.As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
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As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
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As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
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Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
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Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser.Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
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O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido.Tem de ser em carros refrigerados.
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Tudo isto, como é evidente, para nosso bem.Para proteger a nossa saúde.Para modernizar a economia.Para apostar no futuro.Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.
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António Barreto
(Enviado por e-mail pelo Xico.Obrigada)

5 comentários:

Anónimo disse...

Minha filha e seu marido têm um restaurante e havia falado sobre isso. Lógico que pensei que minha filhota havia sofrido um A.V.C.
Agora está explicado.
Vou (será) dormir tranquilo.
Um upa.
Strix.

Fresquinha disse...

Nós pertencemos à União Europeia e as regras do jogo mudaram. Se não fizéssemos parte dela, hoje nem restaurantes tinhamos.
Concordo que ultimamente as posições são demasiados radicais e não atendem aos hábitos culturais de cada País, o que me parece um erro crasso. Uniformização tira criatividade, e mantem os níveis de actuação controláveis. Preço da dita "evolução". Se hoje estamos limitados e temos que corruburar com o que é estipulado pela UE, também é certo que isso em muito nos beneficia. Vivi mais de 70% da minha vida fora de Portugal, nomeadamente na Escandinavia, e sentia que vivia em Hospitais de 7 estrelas. O rigor e a protecção do consumidor não deixava de trazer vantagens às pessoas desses Países, mas desprovrovía-os de muitas outras características que são amplamente apreciadas em Portugal. Agora, se visitarmos a cozinha de um restaurante português médio (ou brasileiro) de certo que não voltamos lá mais...
Tudo deveria ter conta, peso e medida ...e para evitar que não haja, tomam-se posições radicais como estas, que nos desagradam porque atentam à nossa identidade cultural.

xico.lf disse...

Fresquinha,
Concordo contigo ... com conta, peso e medida!
E também concordo quando dizes que se conhecessemos as cozinhas de alguns restaurantes nunca mais lá voltaríamos!!
Sim, há coisas que necessitavam urgente normalização e regulamentação, mas como é costume queremos ser os "melhores" da Europa, com a legislação mais avançada!!
E quantos restaurantes irão fechar?
Talvez com um período de adaptação as coisas fossem mais equilibradas e ... justas!!!
É como com a proibição de fumar em tudo o que é sítio! Nas prisões dão droga (é ilegal), mas a lei proíbe que se fume nas celas!
Quando o PM foi a Angola deu autorização (!?) para se fumar no avião!!! Above the law???

Fresquinha disse...

À boa maneira portuguesa, a lei existe e continua-se a cmer gato por lebre e a fumar em recintos fechados ... já calculaste a fiscalização que vai ser necessária para fazer cumprir estas novas regras ???? Lembra-me a história da interrupção da gravidez. Alguma vez nós temos estruturas de apoio para quem queira interromper voluntáriamente a gravidez ??? Coisas à portuguesa. Importamos ideias como estas mas é pena que não importemos níveis e condições de vida deles ...

Yes, indeed, above the law...

Anónimo disse...

Li algures que a ASAE se rege por ... 700 leis!!!
Como é possível???

Os ingleses chamam-lhe termination!
A ivg legal está bastante abaixo do que previam e a ilegal continua...