quarta-feira, setembro 05, 2007

nuno júdice


Carpe Diem
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Confias no incerto amanhã? Entregas
às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lábios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dúvida
definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me obrigará
à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar
que me oferece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.
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Nuno Júdice

1 comentário:

Anónimo disse...

Fresquinha deixei ou melhor intervalei Ruy Belo e aparece-me outra boa novidade - o Poema Carpe Diem de Nuno Júdice aqui ao lado.
Forte, incisivo, inquietante, ..., e no entanto tb ... "..., porque esperas para ir ao encontro da vida, do sopro quente da primavera,
das margens visíveis do humano?" ... ... "Louco, ignora que o destino, por vezes, se confunde com a brevidade do verso".
Fresquinha, continua.
Beijo :)) xico