sábado, março 15, 2008

à minha mãe: 5 anos passaram


Sentei-me naquela pedra fria que sustenta os finais de vida de tantos caminheiros, e senti-te, no calor de um sol magro que rondava a nossa saudade. De tantas flôres que enfeitavam gavetas brancas, e que emprestavam uma náusea do doce à mesa da nossa conversa, olhei as tuas, carregadas de amor e rosa pálido, e rezei-te. Pedi-te que me procurásses, se de mim precisásses, pedi-te que vigiásses os meus sonhos, se ainda me amásses, me protegesses das coisas que tropeçavam os meus vôos e que, nunca nunca me abandonásses. Pedi-te tudo, mais uma vez, e revi o adeus que nos apartou. Queria ficar ali, a 10 centímetros do chão que nos unia. Que posso eu dar-te agora, aqui, tão tarde ? Que insensato pensarmos que o caminho que ladeia os nossos ombros é infinito ! Que loucura é essa que nos tira a herança, que nos isola o sangue, que nos seca as lágrimas ? Que justiça é essa que nos devolve o nada, ou a paz se a tiveres ? Quem nos empresta a força que precisamos para acreditarmos que um dia, nos iremos reaver e comungar dessa terra prometida ? Guardarás na lembrança a minha bata da escola, os arranhões de joelho, as birras do almoço, as histórias dos namorados, as longas esperas do rodar da chave, as piadas, as fugas da minha janela, as zangas das amigas, .....?
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Era tarde.

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