sábado, maio 03, 2008

Duro é aprender o ofício da arte de aceitar as perdas...


One Art
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The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
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Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
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Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
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I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
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I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
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---Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
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Uma arte
Elizabeth Bishop
Tradução de Horácio Costa
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A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.
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Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.
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Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.
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Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.
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Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.
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- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.
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Este video é o final de um programa de uma hora, One Art, sobre a poeta. Mas para ver o programa todo, que é óptimo, inscreva-se antes no site www.learner.org. A inscrição é gratuita.

2 comentários:

cris disse...

É preciso aprender a perder, Fresky...tens razão. É se calhar aqui que eu vejo os meus degraus. Numa perda abismal, subo um degrau na vida. Por vezes perder... e ganhar. Quando temos uma sociedade que apelida de 'looser' qualquer um, fazendo chacota... Lindo texto.

Perder o amor... é desastre... reinventa-se o ser
e de novo o degrau surge.
É caos e ordem e desordem e caos de novo.
Uma vertigem na perda e no ganho.

Fresquinha disse...

Gostei muito do teu comentário, Cris.
Se substituirmos perda por lição a aprender e ganho por lição aprendida, a escada torna-se mais fácil de subir.
Mal de nós se assim não fosse. Estávamos todos de "rés-do-chão".
Arranjámos preconceitos que destróiem qualquer vontade de resistir ao lamento. Quando a vida não é mais que uma sucessão de acontecimentos para nos ensinar a progredir. Muda de rota. Nada é para sempre. Não possuímos nada, apenas a nossa alma. Resolvemos questões com pessoas ao longo da vida. Resolvidas que estão, temos caminho pela frente. Assentamos arraiais e acomodamo-nos ao gato, ao periquito, à máquina de lavar. E quando os perdemos, porque nada é para sempre, sentimos o vazio da perda. Quando deveríamos saber que o caminho pela frente, está mais liberto. Sem periquito, sem gato e com uma nova máquina de lavar (dessa não prescindo). Vê as tuas perdas, como oportunidades. De recomeçar, reconstruir, reinventar. E então, a escada torna-se um elevador !