"A cultura das Barbies"
.
De onde surgiu e por que ela se espalhou entre gays de todo o mundo, ninguém é capaz de responder com exactidão. É certo que as cidades do litoral, em especial Miami, Rio de Janeiro e Ibiza, viram surgir nas areias e nos clubes, meninos que levam o culto ao corpo ao extremo da perfeição.
.De onde surgiu e por que ela se espalhou entre gays de todo o mundo, ninguém é capaz de responder com exactidão. É certo que as cidades do litoral, em especial Miami, Rio de Janeiro e Ibiza, viram surgir nas areias e nos clubes, meninos que levam o culto ao corpo ao extremo da perfeição.
Comportamento normal nas cidades onde a socialização real é nas praias ou ao redor delas e onde as sungas são tão importantes quanto o jeans. Mas o comportamento se espalhou na década de 90 por todo o mundo. Tornou-se maior - e só daí passou a ser denominada como 'cultura' - quando essa massa de descamisados fortérrimos cresceu assustadoramente, dominado clubes, festas e criando uma espécie de código de conduta: quem conhece e participa faz parte, o resto, bem, é o resto.
.
.
Esses códigos englobam um jeito bem especial de dançar, um estilo de música (o hard house e o tribal house), festas (as circuit parties: todas inspiradas nas White Parties americanas), roupas (vale cueca Calvin Klein, camiseta grudadérrima, calça justa e de cintura baixa, óculos enormes no rosto e tênis, mas a camiseta é só para chegar e ir embora do clube, na pista ela deve estar presa na cintura, ou na chapelaria). Grifes também importam, claro: as preferidas são Calvin Klein, D&G, Foch, Armani, Osklen, Abercrombie & Fitch, Diesel, Diesel e Diesel. Os óculos são Gucci, D&G, Dior ou Prada.
.
Das cidades praianas a cultura se espalhou para as metrópoles cosmopolitas. Nova York concentrou boa parte das barbies na Twilo e hoje na Roxy, uma lenda. Em Londres, na Heaven. Em São Paulo, o primeiro núcleo significativo apareceu no clube Base Diesel, e cresceu imensamente na Level. Hoje todos vão para a The Week. Mas em qualquer cidade brasileira há, ainda que tímida, sinais respingados da cultura barbie.
.
De onde vem? É difícil precisar. Tom of Finland criou imagens homoeróticas que correram o mundo e povoam o imaginário gay até hoje. As imagens traziam homens fortes, másculos. Fetiche puro. A indústria erótica também usou músculos para atrair o público gay.
.
O primeiro mega-estúdio gay, Colt, ficou famoso pelo seu cast, uma espécie de 'encarnação' dos desenhos de Tom of Finland. Depois vieram as revistas, os editoriais e o resto é história. Mas seria a necessidade de provocar desejo, atrair olhares e, conseqüentemente, parceiros, o motivo que fez boa parcela da comunidade gay se internar na academia, injetar hormônios, suplementos e outros sacrifícios, fazendo do corpo verdadeira religião? Sim e não. Sim, porque se sentir desejado é ótimo e entre gays a estética do belo é quase tirana. E não, porque necessidade de se sentir desejado não se restringe aos gays.
.
Mulheres, homens, jovens, adultos e idosos também querem atrair, mas nem por isso se sacrificam tanto e chegam a correr risco de vida por isso. Além do desejo é preciso considerar a auto-imagem: um padrão de beleza ideal e subjetivo que a pessoa busca, e que para chegar lá, enfrenta qualquer sacrifício. De cirurgias a silicone. Travestis e barbies idealizam seus corpos em um processo mental parecido, mas díspar: enquanto uma quer se aproximar do estereótipo feminino, o outro quer ir ao encontro do másculo.
.
Para a socióloga Tatiana Cavalcanti, o ideal de beleza buscado pelas barbies é reforçado pelos meios de comunicação de massa. “É o corpo da televisão e das revistas, multiplicado inúmeras vezes nos outdoors das cidades. Para alguns gays, adotar esse modelo de corpo é uma forma de vingança, de mostrar para a sociedade o quanto eles são bons e bonitos, apesar de toda perseguição e preconceito que ainda há em função da orientação sexual”.
.
.
Das cidades praianas a cultura se espalhou para as metrópoles cosmopolitas. Nova York concentrou boa parte das barbies na Twilo e hoje na Roxy, uma lenda. Em Londres, na Heaven. Em São Paulo, o primeiro núcleo significativo apareceu no clube Base Diesel, e cresceu imensamente na Level. Hoje todos vão para a The Week. Mas em qualquer cidade brasileira há, ainda que tímida, sinais respingados da cultura barbie.
.
De onde vem? É difícil precisar. Tom of Finland criou imagens homoeróticas que correram o mundo e povoam o imaginário gay até hoje. As imagens traziam homens fortes, másculos. Fetiche puro. A indústria erótica também usou músculos para atrair o público gay.
.
O primeiro mega-estúdio gay, Colt, ficou famoso pelo seu cast, uma espécie de 'encarnação' dos desenhos de Tom of Finland. Depois vieram as revistas, os editoriais e o resto é história. Mas seria a necessidade de provocar desejo, atrair olhares e, conseqüentemente, parceiros, o motivo que fez boa parcela da comunidade gay se internar na academia, injetar hormônios, suplementos e outros sacrifícios, fazendo do corpo verdadeira religião? Sim e não. Sim, porque se sentir desejado é ótimo e entre gays a estética do belo é quase tirana. E não, porque necessidade de se sentir desejado não se restringe aos gays.
.
Mulheres, homens, jovens, adultos e idosos também querem atrair, mas nem por isso se sacrificam tanto e chegam a correr risco de vida por isso. Além do desejo é preciso considerar a auto-imagem: um padrão de beleza ideal e subjetivo que a pessoa busca, e que para chegar lá, enfrenta qualquer sacrifício. De cirurgias a silicone. Travestis e barbies idealizam seus corpos em um processo mental parecido, mas díspar: enquanto uma quer se aproximar do estereótipo feminino, o outro quer ir ao encontro do másculo.
.
Para a socióloga Tatiana Cavalcanti, o ideal de beleza buscado pelas barbies é reforçado pelos meios de comunicação de massa. “É o corpo da televisão e das revistas, multiplicado inúmeras vezes nos outdoors das cidades. Para alguns gays, adotar esse modelo de corpo é uma forma de vingança, de mostrar para a sociedade o quanto eles são bons e bonitos, apesar de toda perseguição e preconceito que ainda há em função da orientação sexual”.
.
Para a socióloga, as barbies têm uma identidade própria que vai além do prazer sexual e do deleite estético. “É uma forma de fazer parte de um grupo, de se inserir de alguma maneira na sociedade. Por isso as festas fazem tanto sucesso e, por isso também, as barbies tendem a ficar e namorar entre si. Um casal formado por uma barbie e um urso, por exemplo, é muito improvável, apesar de possível”, explica.
.
.
O factor Sida
.
.
Impossível não levarmos em consideração, também, a imagem dos portadores do HIV mostrada na mídia nas décadas de 80 e 90 e sua reação na comunidade gay.
.
.
Na época, os meios de comunicação exibiam homens (alguns gays e famosos) morrendo, definhando, magros, cadavéricos. Imagens chocantes, perturbadoras de gays, como as barbies, como qualquer ser humano. Foi nesses anos que quando qualquer homossexual perdia peso era taxado imediatamente de 'aidético', com data de morte e tudo. Uma gripe era sinal da 'tia', um espirro ou uma mancha qualquer na pele, um terror. E a imagem persistiu por anos, se é que já tenha morrido. As barbies seriam então a resposta à sociedade a essa imagem massacrante.
.
Músculos no lugar da magreza. Masculinidade no lugar da fragilidade. Uma forma de compensação e de distanciamento daquela imagem tão forte (de gays-caveiras), ainda que hoje ela não faça mais tanto sentido.
.
Para Carlos Maco Mendonça, diretor da peça “Entremeios”, que mostra um gay que vê o namorado morrer de Sida em 45 dias, o aparecimento das barbies não é aleatório. “É uma resposta ao corpo doente do sidoso dos anos 80. É um cuidado de si quase doloroso”.
.
Músculos no lugar da magreza. Masculinidade no lugar da fragilidade. Uma forma de compensação e de distanciamento daquela imagem tão forte (de gays-caveiras), ainda que hoje ela não faça mais tanto sentido.
.
Para Carlos Maco Mendonça, diretor da peça “Entremeios”, que mostra um gay que vê o namorado morrer de Sida em 45 dias, o aparecimento das barbies não é aleatório. “É uma resposta ao corpo doente do sidoso dos anos 80. É um cuidado de si quase doloroso”.
.
É a política do corpo que qualquer barbie faz, ainda que sem consciência, quando tiram suas camisas nas pistas, se abraçam, se apertam e se beijam. Como que se ali, entre tantos músculos, eles estivessem protegidos. É claro que não estão protegidos de nada, como nenhum de nós, aliás. Principalmente do horror das drogas sintéticas, em especial o Crystal*, que definha, faz perder os dentes, emagrece seus consumidores e os faz doentes. As imagens são sucessórias, infelizmente.
.
O Mix iniciou uma série de matérias que explicam o que significa na prática a tal diversidade sexual. As diferenças entre travestis e transexuais; o que seria um transgênero, o bissexual; as questões femininas, os subgrupos gays....
.
É a política do corpo que qualquer barbie faz, ainda que sem consciência, quando tiram suas camisas nas pistas, se abraçam, se apertam e se beijam. Como que se ali, entre tantos músculos, eles estivessem protegidos. É claro que não estão protegidos de nada, como nenhum de nós, aliás. Principalmente do horror das drogas sintéticas, em especial o Crystal*, que definha, faz perder os dentes, emagrece seus consumidores e os faz doentes. As imagens são sucessórias, infelizmente.
.
O Mix iniciou uma série de matérias que explicam o que significa na prática a tal diversidade sexual. As diferenças entre travestis e transexuais; o que seria um transgênero, o bissexual; as questões femininas, os subgrupos gays....
.
O primeiro tema investigou as diferenças entre a homossexualidade (prática sexual) e o ser gay (identidade). Leia aqui.
Na segunda matéria perguntamos: quem ama travestis é o que? Leia aqui
.
.
* Ongs gays americanas e inglesas estão em campanha contra o uso da droga Crystal e de outras drogas sintéticas.
.
Do blog http://mixbrasil.uol.com.br/
Sem comentários:
Enviar um comentário