sexta-feira, dezembro 29, 2006

a caixa



Guardei na caixa da memória os teus poemas de guardanapo, as tuas histórias de partitura, os teus desenhos de espelho.

Respirei o mesmo ar, dancei no mesmo bar.

Ri das mesmas asneiras, contei-te mentiras velhas.

Cavalguei os teus cavalos e caí das mesmas nuvens.

Lambi as tuas feridas e chorei da mesma maneira.

Cozi-te as cicatrizes, até que nada restásse, dos retalhos que sobram da mutilação dos outros.

Adormeci na mesma cama, cansada de tanto dar, para de manhã acordar, amarrada ao mesmo sonho.

Acompanhei-te na viagem, partimos no mesmo barco, suámos ambos em arco.

E morri sempre que pude à menor morte dos dois.

porque se morre quando se ama
porque se ganha quando se perde
porque a vida é mesmo assim.

Leonor de Saint Maurice
(2005)

2 comentários:

SaoAlvesC disse...

Como eu entendo este teu texto... antes não existisse esta irmandade no sentir :/

Vem aí o novo ano, tempo de enterrar tudo o que é velho e despertar para um sol que, sendo de inverno, se quer primaveril.

Beijo.

Fresquinha disse...

Pandora,

Estava só em arrumações para entrar num novo ano arrumadinho, quando descobri este - e outros - e publiquei. Muitos destes textos e poemas são antigos. Quando sou feliz, tenho imensa dificuldade em escrever. Portanto, o ano de 2007 vai ter menos escrita e muita acção ! Desejo-te o mesmo, daqui por diante.Beijo :-)