sábado, outubro 21, 2006

faux-pas em Singapura (gaffes)

. Vivi dois anos em Singapura. E aprendi que:
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.Dar a alguém um relógio, seja ele de adorno ou de parede, é um presente de extremo mau gosto. As superstições tradicionais deste povo ditam que estaríamos a contar os segundos para a morte da pessoa a quem oferecemos o relógio. A minha sogra não é chinesa. Pena.
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.Oferecer uma ventoínha ou um chapéu de chuva é pouco amigável. Tradicionalmente, uma noiva oferece aos seus pais uma ventoínha, simbolizando que os está a deixar pelo marido (a sociedade chinesa é tradicionalmente paternal). Porquê ? Afinal são os paizinhos que nos amparam as tempestades. Quando amparam ...
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.É considerado de muito má educação terminar legumes: deve-se deixar restos para os animais de estimação ou para os parentes idosos. Não façam perguntas às quais não sei responder.
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.Não se deve partilhar uma pêra (fruta) com as pessoas de quem gostamos, porque traz má sorte. Com pessoas mais distantes já é admissível. Não estou a falar de pêras para limpezas de ouvidos e outros quejandos. As coisas que eles inventam só para serem diferentes.
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.Quando fazem apostas, jogam ou investem em acções não olham para as perdas, em livros ou revistas. Se se tratar de jornais, já é permitido. Outra daquelas ...
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.Na véspera de o Ano Novo Chinês, comer peixe é impensável. É sinal de ano de privação. E é naturalmente um mau presságio. Um ano cheio de metais pesados não é fácil de suportar.
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.Partir alguma coisa em cacos dá azar. Sobretudo se for perto do Ano Novo Chinês, pelo que se deverá dizer, no caso de se partir alguma coisa, "Que todos os anos sejam serenos", para atrair bençãos. Se fôr em poucos cacos, a coisa disfarça.
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.Nunca se deve oferecer a um homem casado um chapéu verde. Segundo os chineses, usar um chapéu verde é o mesmo que dizer que a mulher do dito é infiel. E isso é um insulto para o casal. Obviamente. Porque raio se oferece um chapéu verde a uma pessoa ? Não estamos a falar de suiços ... Toma lá um chapéu verde, ó Guilherme !
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.À mesa, deve servir-se primeiro a pessoa mais velha. Se não se souber quem ela é (com chineses é difícil), começa-se por servir a visita mais importante. A que usar o BI nos dentes.
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.Espetar os pauzinhos no arroz e deixá-los levantados, é muito mau agoiro e de extremo mau gosto (Aqui também ... só que ...adiante). Assemelham-se aos pauzinhos de incenso usados para honrar os mortos, e este símbolo de morte é muito ofensivo à mesa. Nos funerais cantoneses, um par de pauzinhos chineses é utilizado para espetar um ovo de pato, conservado em sal, na tigela do arroz, no altar, como oferta ao defunto. Porquê pato ???? Perguntam bem. Ultrapassa-me.
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.Assistir a um casamento, enquanto que se está de luto, é de muito mau tom porque traria azar aos noivos. Vistas bem as coisas, são dois funerais em um. Teria uma certa lógica.
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.Era um crime muito grave pronunciar ou dizer o primeiro nome de qualquer imperador na antiga China imperial. É de péssima educação chamar os familiares mais idosos, incluindo tias e tios, de sangue ou por casamento, pelos primeiros nomes. Enquanto que nós chamamos, por exemplo, Tia Joana ou Ti Zé, é impensável fazê-lo entre os chineses. Entre japoneses ou coreanos, o problema já não se põe, o que provoca um tremendo embaraço entre estas culturas asiáticas. O que compreendo. Ti Chung não é nome. É espirro.
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.Referir que Taiwan é território chinês, causa ofensas graves. Bem como referir que Taiwan é "uma parte da China". Numa ocasião em que se encontrem chineses provenientes de ambos os lados, convem não fazer alusões dessa ordem. É um assunto bastante sensível. Isto lembra-me o embaraço que os outros me provocam quando me perguntam se Portugal é uma província espanhola. Sinto-me bastante ofendida. Lol.
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.Nunca afagar a cabeça de uma criança chinesa desconhecida. Pode estragar-lhe a aura. Os pais reagem violentamente. E com repulsa. Normalmente, lavam-lhes logo a cabeça com água para purificarem a cabeça da criança. Se bem me lembro, ía levando com um BigMac, sem batatas.
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.Os chineses nunca dizem "Não" .... o que me causou sérias dificuldades. Perguntava eu: "Quando me podem entregar a máquina de lavar? Na 6ª ?" Yes. "Ou pode ser Segunda? É porque vou de fim de semana...." Yes. "Então ? Sexta ou Segunda?" Yes. E vinham numa Quinta qualquer, imperetrivelmente.
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.Os homens chineses têem muita dificuldade em negociar com mulheres. Negócios é um assunto de homens. Eu perguntava, eles respondiam. Ao meu marido, claro. Eu era uma voz. A voz portadora da pergunta. Em Singapura, os estrangeiros são ventríloquos.
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.O primeiro cliente em qualquer estabelecimento comercial deverá comprar sempre alguma coisa. Nem que seja uma caixa de fósforos. Senão, à saída, o proprietário da loja ou empregado, vê-se obrigado a despejar um balde de água mesmo à entrada da porta. Sob pena, de patinhar o dia todo com sapatos molhados, evitei sempre não fazer a compra. Traz-lhes azar ao negócio. A água purifica os maus espirítos, e uma caipirinha, não ?
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.São algumas coisas de que me lembro. Saudades, Singapura, saudades ...

2 comentários:

SaoAlvesC disse...

que interessante, algumas coisas que aqui estão não fazia ideia, e algumas são mesmo estranhas, embora pensando bem até façam sentido... um gajo de chapéu verde, lololl!! mas pronto eu acho que sem ele seria como um jardim sem... relva?!

Fresquinha disse...

A história da ventoínha também é estranha ...dá-lhes vento para eles se afastarem e não se meterem na vida deles ? Há coisas... Eu não disse, mas muito destas superstições tem a ver com a fonética das palavras. O que torna a coisa ainda mais sinistra.