terça-feira, outubro 24, 2006

milú, a cadela de um TinTim

Era uma rapariguita franzina, nariz aquilino, olhos sagazes, aluna da minha mãe. Filha de um fotógrafo conhecido em África, era uma aluna mediana, complexada, mas com resposta na ponta da língua.
Quando arreava a jiga, era de fugir.

Vinda de Angola apòs a independência, com uma mão atràs e outra à frente, foi subindo a pulso. Pisando quem quer que fosse para conseguir os seus propósitos. Mudou de País, trabalhou em tudo. O objectivo era ganhar dinheiro. Fosse de que maneira fosse.

Entretanto o pai morre, e ela vê-se a braços com uma irmã drogada e uma mãe depressiva. Atira-se a tudo, como gato a bofe.

Um belo dia, em trabalho, dou com a dita Milú, que entretanto mudara de nome para Maria, com o estômago colado às costas, mas cheia de ambições várias. Estava empregada mas o que ganhava não dava para comer. Em casa, o namorado desempregado e os filhos; sózinha, a mãe depressiva; longe, a irmã drogada.

Dei-lhe a mão, pensando que todos nós merecemos uma chance na vida. Que a vida lhe teria ensinado alguma coisa.

Pois é ... ofereci-lhe uma oportunidade na empresa onde trabalhava. A dita Milú, permanecia de língua afiada e, não contente com as excelentes condições que lhe tinham oferecido, acaba por fazer com que eu fosse despedida, sem justificação, bem como o melhor amigo do gestor da mesma empresa, amigo fiel de muitas horas. Afinal, Milú tinha aprendido com a vida .... mas não eram as melhores lições.

Hoje, Milú faz do dito gestor a sua marionette favorita, levanta-se da cama a cantar, contas pagas, frigorífico cheio, e a mesma atracção dourada que lhe chega pelas janelas.

Se há algo de que me arrependo é, sem dúvida, ter conhecido esta pessoa. Não conheci mais ninguém assim. Mas também ninguém merece.

Pergunto-me com quantas Milús somos obrigados a dar de caras nesta vida e se aprendemos alguma coisa com elas.

Chego à conclusão que aprendemos a mantermo-nos iguais a nós próprios e que, pessoas como estas, apenas servem para nos mostrar o que não devemos ser.

O que é uma lição de vida.

10 comentários:

Mano 69 disse...

Com uma língua daquelas… Língua viperina?

Mano 69 disse...

Lingua viperina?!

BiChOs Do MaTo disse...

Xica ganda lingua.........ou será o cão que é pequeno??????????????????

Inha disse...

São as "Mónicas" da Sophia de Melo Breyner. Elas andem aí...;)

SaoAlvesC disse...

Há muitas Milús, e muitos Milús também.
E há que aprender... sou uma fast learner, mas infelizmente nestas coisas sou bem slow!

Fresquinha disse...

É bífida, a dela ...não encontrei foi um cão com língua bífida ...mas tenho iogurtes !

Fresquinha disse...

Sou de opinião que há coisas na vida que não valem mesmo aprender. Estes Milús (sim senhora...quantos Milús não existem por aí) fazem com que percamos a fé nos outyros, o desencanto nos outros. Prefiro remeter estes contactos imprevisíveis para a zona dos karmas. E rolhar bem o frasco para não sairem.

Fresquinha disse...

É uma cadela (neste caso), Sónia. O maior problema das pessoas começa sempre no cérebro e acaba na língua. E quando essas pessoas são microcéfalas, a língua desenvolve. É a teoria das compensações.

Fresquinha disse...

Inha. elas deviam é ir para as Mónicas ... lá precisam delas. Há sempre um chão ou uma retrete para lavar, e com uma língua destas, a coisa fica a preceito.

Mano 69 disse...

Uma limpeza...