segunda-feira, dezembro 04, 2006

se o Natal ...


... fosse quando o homem quisesse, simplesmente, não haveria Natal !!!
Não dá jeito fazer Natal em pleno Agosto, em Março, na Páscoa, no dia dos anos, no Carnaval, no dia das mentiras, da luta contra a Sida, no dia da Restauração, no dia de Portugal, etc. Incomoda-me a frase feita. Incomoda-me quando me dizem que se devem dar prendas o ano inteiro, porque se deve... mas não se dão. Incomoda-me ouvir dizer que o Natal tornou-se um negócio. Ele é um negócio também. E ontem não foi ? Há um mês não havia negócio, há dois, à três ????Deixem o Natal em Paz. É bom e salutar que hajam festas convencionadas. Sem elas seriam apenas festas. Nem me apetece começar a falar do significado delas. Aproveitem, sim, para gozar a Festa. Que saudades da Festa do Natal, do cheiro das filhóses, do Bolo Rei quente, dos pêssegos e uvas que se comiam em África apenas naquela altura, do leitão assado no forno do padeiro de um chinoca na baixa de Lourenço Maruqes, das prendas escondidas nos armários, do fazer da árvore e do presépio. Das canções de Natal, da ansiedade, da felicidade que rondava a árvore enfeitada de algodão, o cuidado que era preciso para não estalar as bolas coloridas, das luzes que se fundiam de ano para ano e davam uma trabalheira a desembaraçar. Que saudades das pistas de automóveis e de combóios que se montavam pela noite dentro. Que saudades do vestido novo que se estreava no dia, o belo do sapato de verniz polido a casca de banana, da Missa do Galo, do bater do Pai Natal à porta (lareiras não haviam), das tâmaras, dos pinhões, e do estalar das nozes, entalando-as na porta. Saudades das férias da escola. Saudades do côro ensaiado pela minha mãe com os empregados da casa. Canções de Natal no dialecto local. A Missa Luba que ouvíamos em silêncio, rodando num pick-up antigo, em discos de vynil de 33 rotações. Saudades de ser criança. Há coisa mais bela do que o sorriso de criança que vê os sonhos a concretizarem-se debaixo de uma folha de papel colorida e de um grande laço ? Era mesmo o que queríamos. A carta que tinhamos escrito ao Pai Natal afinal tinha sido ouvida. Pedíamos pouco porque tinha que chegar para todos os meninos e meninas do planeta. Os ricos e os pobres. É a festa de toda a gente. E, se há tanta gente que não tem festa nem brinquedos, nós sabemos. Como sabemos, que antes e depois do Natal, há muita gente que não tem festa nem brinquedos o ano todo. Em que ficamos ? Acabamos com o Natal ? Deixamos de celebrar o Natal e salvamos o Mundo ? Não creio. Apeteceu-me dizer isto.

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