domingo, novembro 18, 2007

Leonardo Da Vinci ao fogão

Poucos leitores sabem que Leonardo Da Vinci foi mestre de banquetes na Corte de Ludovico Sforza durante mais de trinta anos; poucos conhecem os seus trabalhos como chefe de cozinha da Taberna dos Três Caracóis. O chamado Codex Romanoff (descoberto em 1981), um livrinho no qual o multifacetado artista anotava as receitas e comentários àcerca das boas maneiras à mesa, mostra o seu interesse pela arte de cozinhar. Um tratado que nos mostra facetas insólitas do maior dos génios universais.
.
O livro Notas de Cozinha de Leonardo da Vinci, de Shelagh e Jonathan Routh, oferece-nos uma imagem menos conhecida de Leonardo da Vinci: foi um apaixonado das artes culinárias desde a sua juventude. A história do artista-cozinheiro está repleta de anedotas curiosas, algumas delas divertidíssimas e desvenda-nos um Leonardo com obsecado com inventos para a cozinha e com receitas excêntricas, ao estilo da nouvelle cuisine, incompreensível naquela época.
.
Em pequeno era um rapaz gordo, “grosseiro, desengonçado e guloso”, segundo assegurava o seu padrastro, Accatabriga di Piero del Vacca, que era pasteleiro e o atraiu para as artes culinárias. Leonardo entrou como aprendiz no restaurante florentino de Verrocchio e para cobrir as suas despesas trabalhou como empregado de mesa numa taberna chamada "Os Três Caracóis". De dia dedicava-se à pintura e de noite servia mesas e cozinhava.
Porém Leonardo queria mais independência na cozinha e decidiu, com o seu amigo e colega, Sandro Botticelli, abrir um restaurante em Florença. O nome eleito para o seu negócio era bastante raro, “A Insígnia das Três Rãs de Sandro e Leonardo “, e a carta do restaurante ainda mais única. Foi elaborada pelos dois cozinheiros-artistas, redigida com a complicada caligrafia de Da Vinci, da direita para a esquerda, para escrever os pratos do dia. O mais extranho, todavia, era a comida que ofereciam aos clientes.
.
Na época renascentista, a cozinha popular era simples e abundante, as travessas repletas de carnes eram consideradas a perfeição culinária. As extravagâncias gastronómicas de Leonardo fizeram com que o negócio fracassásse porque ninguém estava disposto a pagar para comer uma anchova e uma rodela de cenoura, disposta engenhosamente numa travessa.
.
Mais tarde, farto de não encontrar trabalho e de se dedicar a fazer biscates e tocar o alaúde pelas ruas de Florença, Leonardo acabou abandonando Florença para ir para Milão. Fez-se conselheiro em fortificações e mestre de festejos e banquetes de Ludovico Sforza, “O Mouro”. Leonardo ofereceu-se para fazer o menú da boda de uma sobrinha do Mouro mas fracassou, uma vez mais, ao tentar introduzir na sua época uma cozinha sofisticada. Ludovico ordenou-lhe que incluísse alimentos mais substanciais e abundantes no menú (600 salchichas de miolos de veado, 300 enchidos de patas de porco, 1.200 pastéis, 200 vacas, galos e gansos, etc.) e assim foi, segundo os livros de contabilidade do Mouro.
.

A proposta de Leonardo para O Menú da Boda:

.
- Uma anchova enrolada descansando sobre uma rabanada de nabo cortada á semelhança de uma rã.
- Outra anchova enroscada à volta de um rebento de couve de Bruxelas.
- Uma cenoura, lindamente talhada.
- O coração de uma alcachofra.
- Duas metades de um pepino sobre uma folha de alface.
- Um peito de uma curruca.
- O ovo de uma abibe.
- Os testículos de um cordeiro com creme frio.
- A pata de uma rã sobre uma folha de dente-de-leão.
- Uma pata de uma ovelha fervida, desossada.
.

Mas a determinação de Leonardo faz com que, finalmente, o Mouro consinta aprovar os estranhos artefatos que o artista inventou para a cozinha. Por entre outras coisas, um assador automático, uma correia transportadora de lenha, uma imensa picadora de vacas, uma cortadora de pão fatiado automático, um sistema de chuva artificial para combater incêndios, um tambor semi-automático para animar os cozinheiros com música e um aparelho para atordoar as rãs que tentassém colar-se ao barril de água doce.

Máquina de fazer spaguetti



Fatiadora de ovos

Máquina de caçar rãs

(Falarei do Codex Romanoff amanhã)

1 comentário:

Anónimo disse...

mas Leonardo não era vegetariano?