domingo, novembro 18, 2007

o codex romanoff



O Codex Romanoff é um manuscrito que desde há anos se atribui a Da Vinci e que supostamente se encontra no Museu de Ermitage de Leningrado. Os autores (Routh) sustem que não é a primeira vez que o Museu lhes nega ter alguma obra relativa ao código em conservação e continuam a negar redondamente a existência do mesmo. Os Routh afirmam que, por mediacção de dois avales, conseguiram que se lhes entregássem este texto que recolhe as anotações culinárias de Leonardo, que incluem receitas, regras de etiqueta à mesa e apontamentos para recordar invenções pendentes, bem como o que era diligente e necessário para construir duas máquinas: uma para moer porcos-montêses e outra, para prensar ovelhas.
Com a independência de que o código culinário seja apócrifo ou não, resulta como muito curioso e divertido e, desde logo, combina muito bem com a personalidade de Leonardo que, de forma engenhosa, ía ludibriando os outros. Deparamo-nos com supostos conselhos do artista, cheios de humor, como a da utilidade da água com rebentos de couve de Bruxelas para limpar o sangue de um assassinato na mesa e a da sua aversão por cabras: “Não há sítio na minha cozinha para cabras. Se está viva é hedionda e devora tudo, incluindo as minhas mesas e bancos. Morta é ainda mais hedionda. Para desfazermo-nos do odor da cabra, desfazemo-nos da cabra”. Também sustinha que a carne do leão marinho era “dura e fedorenta” e que a sua invenção dos guardanapos lhe ocorreu antes da visão das toalhas e que, “parecem despojos de um campo de batalha”
Inquestionávelmente um dos capítulos mais divertidos do Codex Romanoff é o dedicado aos hábitos indecorosos à mesa. Alguns dos mais chamativos são os seguintes:

"Nenhum convidado deve sentar-se sobre a mesa, nem de costas para a mesa, nem no colo de qualquer outro convidado"."
Não se deve pôr restos de comida ou mastigar sobre o prato dos seus vizinhos, sem antes lhes ter perguntado".
"Não se deve enxugar a sua colher na roupa do seu vizinho de mesa"
"Não se deve fazer insinuações impúdicas aos pais do meu senhor nem brincar com os seus corpos".
"Muito menos se deve pegar fogo aos companheiros de mesa desde que permaneça à mesa".
"E se se tiver que vomitar, então, poderá abandonar a mesa".
Também adverte sobre "a maneira correcta de se sentar um assassino à mesa": "Se houver um assassínio planeado para a hora da comida, então o mais decoroso é que o assassino se sente perto daquele que será objecto da sua arte (situe-se à esquerda ou à direita dessa pessoa, irá depender do método do assassino), pois desta forma não interromperá a conversa, se a realização do feito se limite a uma zona pequena (...) Depois do cadáver (e as manchas de sangue daí resultantes) ter sido retirado pelos criados, é costume que o assassino também se retire da mesa porque a sua presença poderá perturbar ocasionalmente as digestões das pessoas que se encntrem sentadas ao seu lado ....".
Num outro parágrafo curioso, Leonardo fala assim de um membro da familia Sforza: “É impossible sentar à mesa o senhor Maximiliano Sforza, se não fôr perto de uma porta aberta, pois nunca se muda a sua roupa interior e além disso, quando está a comer, tem o costume de soltar os seus furões na mesa para que roam a comida das outras pessoas.”
E num outro parágrafo, acrescenta: “Na Quaresma, a Sua Santidade come pouco e mantem uma devota expressão no seu semblante, mas logo cedo abandona a mesa e encaminha-se para outra mesa que tem nos seus alojamentos privados (com uma cozinha completa, cozinheiros e também bons manjares) e ali se empanturra de galo, codorniz e raposa".
Leonardo, que pela sua genialidade frequentemente foi desculpado por todos, de forma súbtil ou mais descarada, zombava dos costumes de "outras pessoas que tivesse conhecido em altos cargos", ou sejam, os influentes convidados do seu senhor, incluindo, do próprio senhor. Adulava-os e ao mesmo tempo, punha de manifesto o repúdio e a depreciação que lhe inspiravam essas pessoas tão poderosas como vulgares e ignorantes.

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